Som aos tubos


WicksPipeOrgan2Um dos principais instrumentos na história da música, o órgão de tubos é a base de tudo o que é feito de teclas

O órgão é um dos instrumentos mais antigos de que se tem notícia. Vem de antes do século III a.C. e descende da flauta de Pan (ou Syrinx) e do cheng chinês, que era chamado de órgão de boca. Por essência, é um instrumento de tubos. Sua definição, em qualquer dicionário, é de um instrumento com tubos ou fileiras de tubos, com sistema de alimentação de ar (foles) e uma mesa de comando, ou console, na qual estão os teclados manuais e a pedaleira. Estando qualquer dessas partes básicas ausentes, já não se trata mais de um órgão.

O primeiro desses instrumentos foi construído por um engenheiro chamado Ctésbius (ou Ctesibius) de Alexandria. Ele construiu uma caixa oca, na qual o ar era comprimido a uma pressão constante, e sobre a qual distribuiu tubos. Havia, na frente do instrumento, uma rústica fileira de teclas, cujos mecanismos permitiam uma clara audição dos tubos. O ar era armazenado graças à pressão da água, o que configurava um órgão no sistema hidráulico.

O momento exato na história em que esse sistema foi substituído pelos foles não é conhecido. Contudo, o exemplar mais remoto desse instrumento na antiguidade, construído na Hungria e encontrado em 229 d.C., já era constituído por eles.

O órgão começou a ser difundido na Europa em 757 d.C., quando partiu da Itália para a França. Antes um instrumento considerado profano, passou, aos poucos, a ser presença constante nas igrejas. Isso porque a técnica de construção era conhecida apenas por monges. No Brasil, até hoje, essas instituições detém grande parte dos modelos restantes. No instrumento do Mosteiro de São Bento, considerado o melhor do País, só é permitida a manutenção por padres, que vêm da Alemanha para tanto.

“Johann Sebastian Bach, que foi um dos maiores compositores para o órgão, era chamado em toda a Europa para testar esse tipo de instrumento. Se não tivesse o aval do músico, a peça era destruída”, revela o técnico Jairo Araújo, responsável pela manutenção de alguns exemplares paulistanos.

OrganConsoleLargeCom o passar dos anos, o órgão se desenvolveu para outros tipos. No século X, eram três: o portativo, o positivo e o Grande Órgão de Tribuna. O primeiro era o mais compacto e mais barato. Podia ser transportado pelo próprio músico, que o operava sozinho. O positivo precisava ficar estacionado, pois o organista não podia tocar e acionar o fole ao mesmo tempo.

O modelo mais próximo do que veio a se tornar o instrumento atual era o Grande Órgão, usado nas catedrais. Tinha sonoridade mais poderosa e variada. Desde então, o órgão tem a sua formação básica: um teclado principal, cujos tubos estão a pelo menos um metro acima das teclas e do organista, um teclado secundário e o teclado de pedal, onde ficam os registros mais graves.

 

Na história

A importância do órgão para a história da música, no que diz respeito às teclas, é bastante significativa. O instrumento não só foi um dos primeiros a serem confeccionados como, também, é dono de um amplo leque de possibilidades sonoras e composicionais.

Sem o conceito do órgão, de tocar tubos por meio de teclas, o cravo ou o piano, por exemplo, não teriam surgido. Não haveria instrumentos de teclado na atualidade se o órgão não tivesse sido inventado. A criação desse instrumento foi uma das maiores contribuições para a história da música ocidental.

ColbyFactory%20015O órgão de tubos também é importante pelas funções que consegue exercer. É capaz de reproduzir o som de um grande número de outros instrumentos. “É importante pela sua complexidade. Em matéria de registração, completa uma orquestra toda. Não toca um só instrumento, mas todos os necessários. Um organista que o utiliza pode usar uma clarineta, um trompete, uma flauta. Sem saber tocá-los de fato”, diz a organista Selma Asprino.

Em relação à história da música brasileira, o órgão tubular também tem importância. O problema está na produção de peças que, no País, acaba sendo um tanto restrita. Os compositores brasileiros desse tipo de música, em sua maioria, não são organistas e não conhecem bem o instrumento. Não há uma tradição ou uma escola nacional para essas composições. No Brasil, só se escreveu para órgão a partir do final do século 19. E, assim mesmo, as composições estavam sempre atreladas ao uso da Igreja que, por aqui, impunha grandes restrições à música nesse período.

 

Diferenças

Grand%20old%20pipe%20organ%20at%20Arlington%20Street%20ChurchTocar um órgão de tubos é muito diferente de tocar qualquer outro tipo de instrumento. A principal diversidade está no fato de que, por causa do fato de o ar ter que ir até a boca dos tubos, há um atraso entre o momento em que as teclas são pressionadas e quando o som é ouvido. A sonoridade dele também é única. Os órgãos eletromecânicos – dos quais o Hammond é o mais famoso – que buscam reproduzir o tubular não conseguem alcançar os timbres com a mesma eficiência. Mesmo para um leigo, fica claro que uma caixa acústica, com dois ou três falantes, nunca vai reproduzir satisfatoriamente o poder de um órgão, que tem mais de 120 fontes de emissão de som. Fisicamente falando, em um instrumento acústico há relações harmônicas bem diferentes do que em um eletrônico. O verdadeiro órgão continua e continuará sendo um instrumento único.

Outro fator que o diferencia é a questão de que, apesar do atraso na saída do som, seu teclado é mais pesado e, muitas vezes, trazem mais segurança ao organista. Esse retardamento está ligado a uma série de fatores, que vão desde o modelo do instrumento até o seu posicionamento e a acústica do local em que está. Mas não é um empecilho. “A sonoridade dele é completamente diferente, porque é um instrumento de sopro. Os timbres decorrentes da registração são bem diferentes daqueles conseguidos com órgãos eletrônicos ou de válvula. É um instrumento completamente essencial”, diz o músico e professor Rubens Pimentel.

Os órgãos eletrônicos já estão em um patamar avançado. Comprometem menos o organista do que faziam há algum tempo e já conseguem atingir bons resultados no que diz respeito à registração. Contudo, continuam sendo apenas uma opção. “É mais fácil para o organista se situar na console de um órgão de tubos, por exemplo. Acho que ele nunca será superado”, diz Selma.

 

Construção e funcionamento

DSCN0422São três tipos diferentes de construção. Existem os órgãos mecânicos, os eletromecânicos e os hidráulicos, que foram os primeiros. Basicamente, o eletromecânico funciona operando com um fole, que é alimentado por uma ventoinha. É o pulmão do órgão e precisa ter uma pressão constante,. Desse fole, dessa caixa de ar, saem corredores de canos de madeira, chamados someiros. Eles vão até as bocas dos tubos. Cada fileira de tubos tem uma função e um nome, corresponde a um instrumento e é afinada de uma maneira. E há, também, as fileiras mistas, com misturas de três e de cinco tubos.

Um órgão de tubos pequeno tem, basicamente, dois mil tubos. Os que consomem mais ar são os da pedaleira. O console, onde ficam os registros, é o que comanda as ações do instrumento. Quando se puxa um registro de flauta, por exemplo, aciona-se a fileira de ar de tubos de flauta. Cada vez que se pressiona uma tecla, um comando elétrico é enviado e abre uma bolsa embaixo do tubo. Com isso, o ar sai, passa pelo tubo produz o som. Qualquer desgaste que haja nas peças provoca um atraso ainda maior do que o normal.

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