Joey DeFrancesco – O mestre do Hammond


joeydefrancescotrio_ueffilojazzclub2012_10Organista, trompetista, cantor e pianista, Joey DeFrancesco é, atualmente, o mais aclamado intérprete de um instrumento que revive seus dias de glória: o órgão Hammond

A genialidade não está só na invenção de algo e no pioneirismo em usar uma linguagem, que músicos como Jimmy
Smith e Jon Lord tiveram na performance organística. No caso de Joey DeFrancesco, a genialidade está em ter visto relevância em algo que muitos pareciam não perceber. E continua existindo quando ele mantém, com qualidade e competência, um estilo que para muitos já havia produzido tudo o que podia de bom.

Nos anos 1980, no início da revolução dos instrumentos musicais digitais e do protocolo MIDI, onde qualquer timbre – seja de instrumentos acústicos de orquestra ou populares, ou eletrônicos analógicos e eletromecânicos, como órgãos e sintetizadores – podia ser simulado por teclados portáteis e a preços acessíveis por meio de sample-players populares,  um instrumento dedicado, pesado, caro e fora de produção, como o órgão Hammond, estava fadado ao esquecimento.

Um sintetizador Yamaha DX7, um híbrido Roland D-50 ou um workstation Korg M1 podiam produzir o timbre de um
tonewheel – se não igual, parecido – de modo mais versátil e com muito mais praticidade dentro de um set. O pop-rock
vendia muitos álbuns no mundo inteiro, com sonoridade eletrônica que tornou o jazz organ, para a maioria das pessoas, uma linguagem antiquada e fora de moda. Órgãos Hammond B3 eram sucateados, esquecidos em salinhas de igrejas, junto a outros objetos inutilizados. Todo músico queria um sintetizador digital. Foi aí que o gênio se revelou.

Aos 16 anos, Joey DeFrancesco assinou contrato de exclusividade com a Columbia Records e, no ano seguinte, fez sua primeira gravação, All of Me, em um órgão, trabalho considerado de grande influência para a volta do uso do  Hammond no jazz. No final dos anos 1980, DeFrancesco juntou-se a Miles Davis e sua banda para uma turnê pela  Europa, seguida da gravação do álbum Amandla. No início da  década seguinte, gravou alguns discos e, com 18 anos, montou seu próprio quarteto. Aos 22, fundou o grupo The Free Spirits, com o qual excursionou e gravou, tudo isso  tocando um órgão Hammond, não um piano ou um sintetizador.

Em 1999, DeFrancesco gravou ao vivo, no San Francisco Jazz Festival, o álbum Incredible!, no qual seu ídolo, Jimmy Smith, participou de algumas faixas. Em 2005, DeFrancesco lançou o álbum Legacy, com o qual Jimmy Smith também colaborou, sendo essa a última gravação do mestre maior do Hammond, que faleceu em 2004, antes do lançamento.
É com esse gênio, de técnica refinada e influente no desenvolvimento e na promoção de clonewheels de qualidade por  todo o mundo, que tivemos a oportunidade de conversar em entrevista exclusiva.

4Você é considerado o “ressuscitador” do Hammond no jazz. Ao mesmo tempo isso possibilitou a redescoberta de artistas esquecidos e o surgimento de novos nomes na cena organística. Como decidiu-se pelo órgão, no final dos anos 80, uma época em que essa cultura já não era tão popular?
Obrigado! É uma honra ser visto dessa forma, mas é também uma grande responsabilidade. A razão principal é que meu pai amava órgão. Tínhamos um instrumento em casa e os melhores discos de jazz organ. Nasci dentro desse tipo  de música e desde muito cedo, aos 4 anos, me interessei em tocá-lo. Essa escolha foi natural para mim. Tudo começou  com Jimmy Smith, com muita gente seguindo sua preferência pelo órgão. Tempos depois eu surgi no cenário e outros  me seguiram da mesma forma!

Você era considerado uma criança prodígio e tocava vários instrumentos. Qual a importância do piano no seu aprendizado?
Comecei a tocar piano porque em minha escola eles não tinham nenhum tipo de órgão. Aos 10 anos fui aprender  música em uma escola. Acredito que seja importante  para qualquer instrumentista tocar piano. Principalmente para quem toca órgão. A diferença é o peso das teclas, que são mais pesadas no piano. Com isso, quando você toca bem piano, você pode voar no órgão (risos). São instrumentos diferentes. Mas é importante conhecer bem a linguagem do
piano, principalmente como os acordes se formam e soam na mão esquerda.

Temos sentido nos últimos anos um renascimento da cultura Hammond. A que você credita esse interesse e o que faz que essa cultura perdure?
Esse renascimento é incrível. E acredito que começou em 1989, quando meu primeiro álbum saiu (risos). Mas tem sido
ótimo. São mais de 26 anos! E tem sido muito expressivo e muito mais duradouro que antigamente. E isso desde a década de 1960. O primeiro álbum de sucesso surgiu por volta de 1956, com Jimmy Smith. O órgão entrou no cenário e  se solidificou. A onda seguiu até 1968-69 e, depois disso, houve uma queda, tanto que por volta dessa época a  Hammond parou de fabricar o B3. Desse tempo até agora, todos tentam fabricar o melhor som de órgão, em todas as partes do mundo, até mesmo no Brasil.

Você já tocou com inúmeros músicos de primeira linha, como Miles Davis e Jimmy Smith. Jimmy Smith é sua maior
referência?
Com certeza. Jimmy Smith é minha maior referência e influência, pelo espírito com que tocava, pela precisão técnica e pelo som que tirava do instrumento. Mas há muitos outros nomes importantes que influenciaram decisivamente não só  a mim mas várias gerações de organistas, como Jimmy McGriff, Jack McDuff, Richard “Groove” Holmes, Shirley Scott e outros.

Independentemente de estilo, quais novos nomes tem chamado sua atenção no órgão?
Há muitos artistas que descobriram ou redescobriram a sonoridade do Hammond e tem usado o instrumento nos mais diversos gêneros e estilos. Posso citar vários de quem gosto muito. Agora me vem os nomes de Brian Charette, Ben Paterson, Larry Goldings. Larry é mais do meu tempo, pois ele começou uns quatro anos depois do meu primeiro disco.
Naquela época, éramos apenas quatro ou cinco que se dedicavam seriamente ao Hammond. Hoje há um monte de  caras usando o instrumento e produzindo coisas incríveis, seja solo ou em bandas. (José Osório de Souza e Alexandre Porto)

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