Dennerlein, DeFrancesco e Goldings: os novos mestres do Hammond


As novas gerações de organistas, do final dos anos 1980 para cá, têm visitado os antigos mestres, imitando-os e juntando contemporaneidade ao passado

A arte humana é eterna, pelo menos enquanto dura. Seus períodos criativos, de pioneirismo e real inovação, têm  começo, meio e fim. Contudo, o talento humano é infinito para manter o que foi criado, sempre adicionando algo novo.  O que é realmente bom sempre apaixona e, mesmo se ficar esquecido por um tempo, volta à vida. Entre os novos mestres do Hammond – que nem são tão novos assim – vamos citar alguns, cuja apreciação não pode faltar a uma cultura musical de qualidade.

Barbara Dennerlein
Organista alemã, nasceu em Munique em 1964. Começou a tocar órgão aos 11 anos de idade, depois de ganhar um instrumento Hohner. Teve aulas com Paul Greisl, que tinha um Hammond B-3, então se interessou pelo instrumento e instalou um pedalboard em seu Hohner. Aos 13 anos, adquiriu seu primeiro Hammond e aos 15 já tocava em clubes de jazz de primeira linha. Em 1985, quando seu álbum Bebab foi lançado, Dennerlein montou seu próprio selo de gravação e passou a administrar seu trabalho, porque percebeu que não tinha apoio de outras gravadoras – ou mesmo da Hammond – que, na época, estavam mais interessadas em promover modelos de órgãos digitais e não o B-3 que ela usava. Conquistou dois prêmios German Record Critics’ pelo trabalho que produziu. Depois, pelas gravadoras Enja Records e Verve Records, trabalhou com Ray Anderson, Randy Brecker, Dennis Chambers, Roy Hargrove, Mitch Watkins e Jeff ‘Tain’ Watts. Dona de espetacular técnica com os pés, Dennerlein modificou um pedalboard da Hammond para tocar samples de baixo acústico por meio de tecnologia MIDI e gostou muito do resultado. Resolveu  então alterar também os manuais para tocarem timbres de samplers e sintetizadores externos. Essa sonoridade imprimiu características únicas ao seu estilo de tocar. Tendo inicialmente sido influenciada pelo jazz, começou a se interessar por música clássica e litúrgica. Gravou com órgão de tubos em 1994 e, em 2002, fez o primeiro de três álbuns de jazz em órgão de igreja. Desde 2003, tem desenvolvido projetos com orquestras sinfônicas, incluindo colaboração com a Orquestra Filarmônica de Berlim em um órgão Karl Schuke.

Joey DeFrancesco
Um dos mais talentosos artistas de sua geração, Joey DeFrancesco, organista, cantor e trompetista norte-americano, nasceu em Springfield, Pennsylvania, no ano de 1971, em uma família de três gerações de músicos. Seu pai, o “papa” John DeFrancesco, é organista reconhecido e ganhou o Oklahoma Jazz Hall of Fame’s Living Legend Award em 2013. Joey DeFrancesco começou a tocar com 4 anos e aos 5 já dedilhava repertório de Jimmy Smith. Aos 10, formou uma banda com Hank Mobley e Philly Joe Jones e abriu shows para Wynton Marsalis e B.B. King. Cursou “Creative and Performing Arts” no Philadelphia High School e aos 16 anos assinou contrato de exclusividade com a Columbia Records. No ano seguinte, fez sua primeira gravação, All of Me, trabalho considerado de grande influência para a volta  do uso do Hammond no jazz. No final dos anos 1980, DeFrancesco juntou-se a Miles Davis e sua banda para uma turnê na Europa seguida da gravação do álbum Amandla. No início dos anos 1990, gravou alguns discos e, aos 18 anos,  montou seu próprio quarteto. Com 22 anos, fundou o grupo The Free Spirits com o guitarrista John McLaughlin e o baterista Dennis Chambers, com o qual excursionou e gravou. Em um desses álbuns, Tokyo Live, também tocou trompete. Em 1999, DeFrancesco gravou ao vivo, no San Francisco Jazz Festival, o álbum Incredible!. Seu ídolo, Jimmy Smith, participou em algumas faixas. Em 2005, DeFrancesco lançou o álbum Legacy, no qual Jimmy Smith também  colaborou, sendo essa a última gravação do mestre do Hammond, que faleceu em 2004, antes do lançamento.  DeFrancesco foi indicado ao Grammy Award desse mesmo ano pela gravação Falling in Love Again. Em 2009, tocou e produziu o filme Moonlight Serenade e, em 2011, foi indicado a outro Grammy, como “Best Contemporary Jazz Album” por Never Can Say Goodbye: The Music of Michael Jackson. Virtuose e exímio improvisador, DeFrancesco recebeu,  dentre outras aclamações, o título de melhor organista B-3  do planeta pela JazzTimes, além disso tem colaborado com a indústria de instrumentos musicais se envolvendo em projetos e promoções.

 

Larry Goldings
Nasceu em Boston, Massachusetts, em 1968. Estudou música erudita até os 12 anos, mas durante o colégio começou a  se encantar com o jazz de Erroll Garner, Oscar Peterson, Dave McKenna, Red Garland e Bill Evans. Na adolescência,  teve aulas particulares com Ran Blake e Keith Jarrett e, em 1986, mudou-se para Nova York. Já nessa época, tocou piano na banda de Sarah Vaughan, Harry “Sweets” Edison e Al Cohn e, enquanto ainda cursava o colégio, saiu em turnê com Jon Hendricks. A partir de 1988, Goldings começa a aparecer regularmente como organista no cenário musical de Nova York, em várias bandas e com seu próprio trio, formado com o guitarrista Peter Bernstein e o baterista Bill Stewart. Gravou seu primeiro álbum, Intimacy Of The Blues, em 1991, seguido por mais de uma dezena deles, colaborando também como músico de estúdio com diversos artistas, em vários estilos, tanto como organista quanto como pianista. Em 2007, Larry Goldings, Jack DeJohnette e John Scofield receberam indicação para o Grammy na categoria de “Best Jazz Instrumental Album” individual ou grupo por seu álbum Trio Beyond – Saudades (ECM). Músico completo, tem composições gravadas por diversos artistas, como Michael Brecker, Jack DeJohnette, Bob Dorough, Jim Hall, John Scofield, Toots Thielemans, Curtis Stigers, Jane Monheit e Sia Furler, dentre outros, além criar e arranjar música para cinema. (José Osório de Souza)

 

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